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CASAS BAHIA TEM PEDIDO DE RECUPERAÇÃO ACEITO, E FOCO SERÁ EXECUÇÃO

30 de abril de 2024

No mercado, há dúvidas sobre capacidade de rede sair de reestruturação extrajudicial.

O pedido de recuperação extrajudicial da Casas Bahia foi aprovado na noite de ontem pela Justiça de São Paulo, e com isso a rede tenta pôr uma pedra no assunto e passar ao mercado a percepção de que o foco, daqui para frente, é o processo de retomada operacional.

O mercado ainda tem, no entanto, dúvidas relativas à execução e à capacidade de a cadeia recuperar os resultados, algo vital para que a rede honre com seus compromissos com os bancos credores.

O atual de cenário de corte de linhas de crédito pelas seguradoras estrangeiras, que protegem a indústria do risco da venda, como o Valor revelou ontem, é parte dos desafios que a rede tem de lidar para conseguir virar essa página.

Ontem, o comando da empresa detalhou aos investidores, em teleconferência, aspectos do plano, e as ações fecharam o pregão em forte alta de 34,20%, a R$ 7,30. A expansão reflete o fato de já ser um papel que perdia valor há meses, mas também um otimismo com o plano – apesar da posição cautelosa sobre a execução do projeto.

“Estamos cientes do desafio, ninguém aqui acredita que será fácil”, disse ontem o CEO, Renato Franklin. “Mas o reperfilamento das dívidas com os bancos dá tempo hábil para podermos trabalhar e permitir o foco do ‘management’ na operação [da rede]”. Segundo ele, a empresa ainda ganha tempo para gerir esse cenário de juros ainda elevados, mesmo após a queda da taxa Selic, e a demanda ainda fraca no varejo de duráveis.

O plano envolve apenas as dívidas sem garantias com credores do setor financeiro – fornecedores e empregados não fazem parte do acordo, já que não se trata de uma recuperação judicial que envolve todo o passivo.

Pelo proposto, a dívida renegociada com esses credores se refere a quatro emissões de debêntures e uma Cédula de Crédito Bancário (CCB), somando R$ 4,1 bilhões, com prazo alongados de 22 meses para 72 meses, com carência de dois anos e meio para o principal. Com isso, o desembolso de caixa até 2027 cai de R$ 4,8 bilhões para R$ 500 milhões.

A dívida será convertida para uma emissão de debêntures de R$ 4,1 bilhões, com duas séries (parte pode ser convertida em ações). Ao fim dos 72 meses, a rede fala numa economia de R$ 60 milhões ao ano em juros de dívida.

Rede teve problemas com fornecimento de produtos entre o fim do ano passado e início deste ano

Banco do Brasil e Bradesco têm nas mãos 54,5% desse passivo e já deram aval ao plano, em negociações que ocorrem desde meados do ano passado. E por isso, o pedido de recuperação e o plano de 159 páginas pode ser encaminhado no domingo para a 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, e aceito no início da noite de ontem. Apesar de ser uma recuperação extrajudicial, a Justiça tem que analisar o pedido.

A expectativa é de um balanço do primeiro trimestre de 2024 “mais limpo”, diz Franklin, sem o peso dos vencimentos, e com questões operacionais melhor encaminhadas. A varejista está em reestruturação operacional desde o início de2023.

Mesmo com essa expectativa, ainda há alguns temas na mesa da empresa que precisam evoluir.

A Casas Bahia teve problemas com fornecimento de produtos por grandes fabricantes, em categorias como eletrodomésticos e eletroeletrônicos no fim do ano passado e no começo deste ano, quando buscou recompor estoques. Isso refletiu uma redução nas linhas das seguradoras de créditos estrangeiras e dos fornecedores.

Segundo fontes, o aperto maior no crédito se manteve, pelo menos, até fevereiro. Há tratativas em andamento na busca de uma normalização, mas esse fluxo de crédito ainda não está dentro do ideal pelo comando. “Se tivéssemos as linhas, teríamos vendido mais [nos últimos meses]”, diz uma fonte.

Nenhum grande fornecedor estrangeiro, como Whirlpool, Samsung, LG e Motorola fecha fornecimento para varejistas nacionais sem a cobertura do seguro de algum percentual sobre a venda. A crise na Americanas ajudou a tornas seguradoras mais seletivas.

O plano de recuperação junto aos bancos, e a melhora recente na geração de caixa da rede, pode abrir espaço para uma normalização dessas linhas, acredita uma pessoa próximo à cadeia. Em novembro, um rebaixamento de “rating” da Casas Bahia pela S&P ajudou a reduzir esse fluxo de crédito.

Sobre essa questão do acordo com o Bradesco e o Banco do Brasil, as instituições queriam tirar da mesa o “risco Casas Bahia” de forma definitiva, apurou o Valor.

A ideia era deixar de lado soluções pontuais, que jogariam a questão um ou dois anos para frente, para algo com mais “cara de definitivo”, disse uma fonte.

Em fevereiro, chegou a ocorrer um reperfilamento de dívidas, numa transação ancorada por Bradesco e BB, mas com dificuldades de o grupo levantar novos recursos, e com vencimentos de debêntures no curto prazo, a rede precisou voltar à mesa de novo. Mais de R$ 1,5 bilhão em debêntures com os bancos venciam neste ano.

Na visão dos bancos, soluções de renegociação “fatiadas, uma aqui e outra ali”, apenas adiaria uma dosagem de remédio mais forte, dizem pessoas a par das negociações. “Se adiasse muito um acordo mais amplo, o ‘timing’ que ainda existia poderia ser perdido e aí, só resolveria uma RJ [recuperação judicial], que é o pior cenário” resume um credor a par do tema.

Na negociação com as instituições, uma das questões exigidas pelos bancos teve a ver com avanço da migração da linha de CDCI, o crédito direto ao consumidor, para o Fidcs, o fundo em direito creditório, apurou o Valor.

O CDCI coloca a cadeia como responsável pela liquidação das parcelas de financiamento de clientes junto aos bancos. Já no Fdic, o fundo de direitos creditórios, o risco fica diluído com milhares de operações ao consumidor. Essa migração ao Fdic já estava em negociação no ano passado, mas atrasou e não saiu do papel. Agora, isso terá que avançar.

Daqui para frente, a rede afirma que a prioridade é a recuperação de resultados. Entre os focos estão a melhora da margem bruta, aumento da penetração de serviços na loja e ganho na participação de mercado com a retomada mais acelerada nas vendas, disse Franklin.

Analistas de bancos consideraram o plano de recuperação extrajudicial positivo, pela renegociação substancial de valores, mas chamam atenção para o risco de diluição dos atuais sócios (Michael Klein é o maior de deles) após a emissão das debêntures convertidas em ações. A reestruturação foi costurada pelo Lazard e Pinheiro Neto.

FONTE: VALOR ECONÔMICO – POR ADRIANA MATTOS — DE SÃO PAULO

 

 

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