Quase metade das grandes lojas on-line já dá desconto no uso da modalidade, segundo pesquisa.
De descontos variados a frete grátis, as vantagens oferecidas no e-commerce para clientes que optam por pagar com Pix aumentam progressivamente. No início de janeiro, quase metade (47%) das grandes lojas on-line do país oferecia algum benefício para o uso do instrumento instantâneo de pagamento, de acordo com o Estudo de Pagamentos Gmattos, antecipado ao Valor. O levantamento mostra ainda que o número de parcelas sem juros oferecidas no cartão de crédito vem caindo.
Para especialistas, a diferenciação de preços nos pagamentos à vista é uma tendência saudável para o mercado.
O movimento de incentivo ao Pix reflete os menores custos de aceitação da modalidade pelos lojistas e as vantagens em termos de fluxo de caixa, já que os recursos ficam disponíveis na hora. Também é observado um alto nível de conversão no carrinho de compras. As vendas que de fato se concretizam após o cliente incluir os itens no carrinho superam 90% no Pix, diz a consultoria. No cartão de crédito, a taxa é de cerca de 70%, no boleto, de 50% e, no débito, de 30%.
A sondagem, que na edição de janeiro observou 59 lojas on-line de destaque no mercado brasileiro, é realizada bimestralmente desde 2021. Desde setembro do ano passado, o Pix é oferecido como método de pagamento em todas as lojas analisadas, assim como o cartão de crédito, até então líder absoluto em aceitação no comércio eletrônico.
Até o início de 2023, as pesquisas mostravam certa oscilação no incentivo dos lojistas ao Pix. Desde maio, no entanto, o percentual de estabelecimentos oferecendo alguma vantagem para o uso do meio de pagamento só cresce. Naquele momento, a oferta de benefícios atingia 30% das lojas analisadas. A participação registrada em janeiro superou, inclusive, a verificada durante a Black Friday (46%), embora durante a data promocional os descontos tenham sido maiores, variando de 10% a 15%. Neste mês, oscilaram entre 4% e 12% e houve também registro de frete grátis em alguns casos.
“Acho que o incentivo para o uso do Pix deve seguir crescendo. A nossa leitura é a de que o lojista se engajou muito”, diz o cofundador e CEO da Gmattos, Gastão Mattos.
“Pelas vantagens que oferece, faz sentido a diferenciação de preços”, acrescenta.
Embora o Pix tenha se popularizado primeiro nas transferências entre pessoas físicas, as transações de pessoas para empresas vêm crescendo mês a mês. Em dezembro, elas representaram 36% do total de operações. Um ano antes, essa participação era de 24%, segundo dados do Banco Central (BC).
Presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABcomm), Maurício Salvador explica que a concessão de desconto no uso do instrumento instantâneo não se restringe às grandes lojas virtuais, mas é generalizada no comércio eletrônico. “De um lado, o Pix se popularizou entre os compradores. De outro, beneficia diretamente o fluxo de caixa do lojista. Há muito menos abandono de carrinho e não tem o risco de ‘chargeback’ [estorno das compras no cartão após contestação]”, afirma.
Ao aceitar um pagamento via cartão de crédito, o estabelecimento arca com o MDR (taxa de desconto cobrada pela empresa de “maquininha”) e também tem o custo da antecipação de recebíveis se quiser receber os recursos na hora. Os custos são maiores quanto maior o número de parcelas. O boleto, embora siga resiliente no ecommerce – com 62,7% das lojas analisadas pela Gmattos oferecendo essa opção de pagamento em janeiro -, tem um prazo médio de confirmação de recebimento de dois dias úteis, o que afeta o fluxo de vendas da loja.
O levantamento mostra ainda que, ao mesmo tempo em que crescem as vantagens para uso do Pix, cai o número de parcelas sem juros oferecidas no cartão de crédito. Em janeiro, o prazo médio foi de 5,4 vezes, contra 5,7 vezes na medição anterior, feita durante a Black Friday. Um ano antes, eram cerca de 7,4 vezes sem juros.
A oferta de descontos para pagamento no cartão de crédito em apenas uma parcela ainda é baixa e foi observada em só 5% das lojas em janeiro. Para Mattos, no entanto, essa pode ser uma tendência nas estratégias promocionais, considerando o movimento convergente dos lojistas para diminuir o número de parcelas sem juros. “Assim como os descontos no Pix cresceram, devem começar a aumentar também no cartão à vista, mesmo que seja um desconto menor. É saudável”, diz o consultor.
Os parcelamentos sem juros estiveram nos holofotes no último ano em meio às discussões sobre medidas que ajudassem a reduzir os juros do rotativo, e o tema deve continuar em pauta. Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV, afirma que a modalidade se tornou um hábito no mercado brasileiro, mas que é importante que o consumidor entenda que não há parcelamento sem juros e que, se não há taxa explícita, é porque está deixando de ganhar desconto nos pagamentos à vista. “O que existe é a normalização dos juros embutidos na parcela.”
Na visão da professora, há uma parcela da população disposta a pagar à vista se houver desconto e a adoção da prática pode ajudar a trazer à tona discussões que passam pela compreensão de custo financeiro e educação financeira. “Dar desconto no pagamento à vista ajuda o lojista a fidelizar o cliente e também a ficar menos dependente da antecipação dos recebíveis”, acrescenta.
A evolução dos iniciadores de transação de pagamento (ITPs), função que permite que o usuário movimente sua conta fora do ambiente da sua instituição financeira, e o lançamento do Pix Automático, previsto para 2024, devem ajudar a dar ainda mais fôlego para o pagamento instantâneo nas transações digitais.
A possibilidade de parcelamentos e a experiência ainda mais fluida são hoje os grandes diferenciais do cartão no universo on-line, além do “chargeback”. O Pix conta com o mecanismo especial de devolução, voltado a facilitar os estornos em caso de fraudes ou falha operacional, mas o BC explica que casos de desacordo comercial não fazem parte do regramento e devem ser tratados diretamente entre as partes envolvidas.
Embora o parcelamento via Pix ainda não esteja oficialmente implementado, várias empresas oferecem compras com prestações alternativas ao cartão utilizando, em muitos casos, os trilhos do pagamento instantâneo. Segundo o levantamento da Gmattos, 39% das lojas analisadas ofertaram a opção de pagamento via “buy now, pay later” (compre agora, pague depois, ou BNPL). Foi o maior patamar de aceitação da série e a expectativa é a de que os números sigam em alta.
O débito, modalidade que mais perdeu espaço no e-commerce desde o lançamento do Pix, em novembro de 2020, era ofertado por apenas 20% das lojas em novembro. Já carteiras digitais eram aceitas em 42,4% dos estabelecimentos. O destaque fica por conta do NuPay, solução de pagamento on-line do Nubank, que se consolidou como a segunda “wallet” com maior presença, atrás apenas do Paypal.
FONTE: VALOR ECONÔMICO- – POR MARIANA RIBEIRO — DE SÃO PAULO