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MERCADO ELEVA NOVAMENTE PREVISÃO DE SELIC NO FIM DO CICLO

9 de fevereiro de 2022

Mediana das projeções vê taxa a 12,25% até dezembro.

Se o comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) pareceu desencorajar apostas de uma Selic acima de 12%, a ata revelada ontem fez o caminho oposto. Não apenas voltou a fortalecer cenários de juro no fim de ciclo superior a esse nível, mas também a expectativa para o patamar dele no fim do ano. Em meio ao debate de propostas para reduzir preços administrados, que elevam o risco fiscal e a possibilidade de desancoragem das expectativas de inflação, o Copom de novo pontuou a necessidade de uma taxa mais contracionista do que no cenário de referência.

A comunicação está refletida no novo levantamento realizado pelo Valor com 81 instituições financeiras e consultorias. Destas, 56 disseram acreditar que o Copom trará a Selic para 12,25% em maio, e 50 entendem que esta será a última alta do ciclo. A mediana das contribuições também aponta que este nível será carregado até dezembro. Na pesquisa realizada antes da reunião da semana passada, a mediana apontava para Selic final de 12%, mas que voltava a 11,75% em dezembro.

Juros mais altos por mais tempo

Maior parte das casas prevê altas da Selic até maio e manutenção da taxa até dezembro, em % ao ano

No mercado, a precificação extraída da curva a termo passou a mostrar Selic final entre 12,50% e 12,75%, patamar que seria atingido em junho. Nas opções de Copom, negociadas na B3, a chance majoritária (62%) segue sendo para um aperto de 1 ponto em março – em linha com a sinalização de ajustes menores feitas pelo BC.

Itaú Unibanco, Barclays e J.P. Morgan já revisaram suas estimativas. O primeiro passou a projetar taxa final de 12,50%, contra 11,75% anteriormente. Já os dois últimos elevaram suas previsões de 11,75% para 12,25%.

Para os economistas do J.P. Morgan, Cassiana Fernandez e Vinicius Moreiram, uma política mais contracionista poderia ser alcançada por uma taxa mais alta no fim do ciclo ou ao se manter juros altos por mais tempo. “Devido à deterioração ainda maior das perspectivas de inflação de curto prazo e às crescentes preocupações fiscais, a comunicação indica que o BC prefere uma combinação de ambas as estratégias”, escrevem em relatório.

Apesar do tom, a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, interpreta que a sinalização de juro mais contracionista do que o do cenário de referência “não quer dizer que o BC vai rasgar o nível de 12% e pular a uma Selic de 13%”. “Com a redução do ritmo de aperto, me parece difícil que ele vá para esse patamar. Mas, de outro lado, sinaliza que teremos uma taxa em nível maior que cairá menos do que o Focus acha que cairá ano que vem”, diz, em menção à mediana da pesquisa, que aponta juro a 8% ao fim de 2023.

Na avaliação de Mirella Hirakawa, economista-sênior da AZ Quest, a ata reforçou riscos latentes, que impelem o BC a aumentar o orçamento e a duração do ciclo. “O Copom se refere diretamente ao risco fiscal e como uma redução de impostos sobre combustíveis, ainda que resultasse em inflação corrente menor, teria um efeito negativo nas expectativas.”

Para se contrapor a esse efeito, o BC sinaliza um ciclo de alta mais longo e põe a reunião de junho com chance mais real de alta de juro, diz ela. Assim, a gestora elevou a projeção de Selic terminal de 12% a 12,50%, em junho.

Para o economista-chefe da NEO Investimentos, Luciano Sobral, ainda que o fim do ciclo esteja próximo, o cenário local segue atribuindo viés de alta às projeções. “O tema não dá sinalizações positivas e a inflação se mostra ainda pressionada. E um ajuste fino de fim de ciclo para um aperto tão grande pode ser uma alta, ainda assim, forte”, avalia. A casa entende que uma Selic final de 12,25% “virou piso” no momento.

Na outra ponta, o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, manteve inalterada a estimativa de Selic de 11,75% no fim do ciclo. “O plano de voo do BC indica uma Selic de fim de ciclo acima de 12%, mas temos que pensar que os números de PIB até maio virão muito ruins”, diz, que espera uma alta final de 1 ponto em março e prevê expansão do PIB de 0,3% em 2022. “O BC não deverá dar uma alta adicional em maio. Os dados mostram que a atividade começou a desacelerar antes dos efeitos da política monetária serem sentidos, o que é preocupante.”

Na Pezco, também não houve alteração de cenário, mas a projeção já estimava em 13,25% no fim do ano. Economista da casa, Helcio Takeda entende que a inflação cairá de forma mais lenta que o esperado tanto pelo BC como pelo mercado, o que deve contaminar as expectativas, forçando uma atitude mais dura da autoridade monetária. A consultoria prevê um IPCA de 6,5% neste ano e 4,7% ano que vem.

A sinalização de piora das expectativas em relação ao fiscal, por sua vez, já estavam contempladas, diz Takeda. “É um dos elementos que acho inconsistente na argumentação feita no comunicado. Não faz sentido dizer que o risco fiscal aumentou e, ao mesmo tempo, indicar redução do ritmo de alta. Pelo contrário, o balanço de risco deveria, na verdade, buscar uma chegada mais rápida a essa Selic de fim de ciclo.”

FONTE: Valor Econômico – Por Felipe Saturnino, Marcelo Osakabe e Victor Rezende — De São Paulo

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