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COVID LEVA DÍVIDA DE EMPRESAS A 61,7% DO PIB, MAIOR PATAMAR EM DEZ ANOS

14 de junho de 2021

Pequenas empresas recorreram a linhas emergenciais; grandes foram ao mercado de capitais.

Com ajuda das linhas emergenciais de crédito criadas pelo governo e do momento favorável no mercado de capitais, a captação de recursos pelas empresas atingiu R$ 420,5 bilhões em 12 meses até março, uma alta de 28,3% na comparação com o acumulado de 2020. Desse total, mais de três quartos foram captados na forma de dívida, fazendo com que o endividamento das companhias subisse para 61,7% do PIB, o maior percentual da década.

O aumento dessa proporção leva em conta a tomada de recursos novos e também o efeito da desvalorização cambial, segundo levantamento feito pelo Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (Cemec-Fipe). A alta das captações, porém, não foi acompanhada até agora de um aumento da inadimplência.

Micro, pequenas e médias empresas foram as grandes beneficiárias de medidas adotadas na esteira da pandemia de covid19, como o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (Peac), do BNDES, e o Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Pronampe). Do total de R$ 272 bilhões de crédito bancário contratado em 12 meses até março, R$ 196 bilhões (72%) ficaram com as companhias de menor porte, enquanto as maiores obtiveram R$ 77 bilhões.

As linhas emergenciais, cujo risco é atenuado por recursos públicos, inverteram uma tendência que se viu logo no início da pandemia. Nas primeiras semanas da crise, as grandes empresas tornaram-se as maiores beneficiárias do crédito bancário ao correr às instituições financeiras para fazer caixa.

“Além dos programas, as medidas adotadas pelo Banco Central para aumentar liquidez e crédito foram de extrema importância após o choque da pandemia”, afirma Carlos Antonio Rocca, coordenador do Cemec-Fipe.

O Peac deixou de ser oferecido em dezembro, enquanto o Pronampe vai se tornar política permanente de crédito. Como resultado disso, o estoque de crédito na categoria “outros direcionados” acumulou crescimento de quase 70% em 12 meses até março, depois de ter atingido percentuais negativos até maio do de 2020.

“O forte impacto positivo desses programas recomenda promover uma avaliação de sua funcionalidade e dos seus custos e benefícios”, diz Rocca. O pesquisador ressalta que é preciso levar em conta agora também a criação de condições mais favoráveis ao financiamento das pequenas empresas e a implementação de inovações regulatórias, como a duplicata eletrônica e o open banking, além do número crescente de fintechs.

Dados do Banco Central mostram que a inadimplência de pessoas jurídicas foi de 1,27% em abril, último dado disponível, ligeiro aumento sobre o fim de 2020, quando estava em 1,2%. “A inadimplência deve manter alguma tendência positiva. Mas o impacto da crise foi muito limitado, menor do que esperávamos considerando as pressões de caixa nas companhias, por repactuação de dívidas e a expectativa, não confirmada, de queda do PIB e receita no primeiro trimestre de 2021”, afirma Rocca.

O ganho de liquidez também foi influenciado pela emissão de títulos de dívida e ações, que atingiu R$ 144,6 bilhões em 12 meses até março, mais que o dobro do observado em 2020 – neste caso, beneficiando principalmente as maiores empresas. Metade do valor teve origem em emissões primárias de ações, que somaram R$ 72,3 bilhões, contra R$ 62 bilhões em 2020 e R$ 34 bilhões em 2019.

A outra parte veio por meio de títulos de dívida, cuja emissão foi ajudada pela alta da taxa de juros de papéis mais longos, modalidade que no ano passado havia atingido apenas R$ 12,1 bilhões. “Esse crescimento reverte a forte redução da colocação líquida desses papéis em 2020, quando o impacto da crise reforçou um movimento de saída dos investidores de aplicações de crédito privado que já se observava desde o fim de 2019”, diz Rocca.

Entre 2019 e os 12 meses até março deste ano, a dívida externa das companhias caiu de US$ 347,4 bilhões para US$ 339,4 bilhões. Mas a valorização do dólar ante o real, movimento que recentemente perdeu fôlego, elevou essa fatia para o equivalente a 25,7% do PIB. O impacto do câmbio respondeu por cerca de 60% do aumento do endividamento empresarial entre 2020 e o acumulado até março, de 58,8% para 61,7% do PIB. Superou inclusive o patamar da crise de 2015, quando foi de 57,7%.

Segundo Rocca, o percentual de endividamento não preocupa, já que a maior parte das empresas tomou crédito para fazer caixa. Com dados de 2020, o pesquisador nota que, entre companhias de capital aberto não financeiras, a dívida líquida aumentou apenas R$ 132,1 bilhões (6,7%) no ano passado, um período em que a dívida bruta cresceu em R$ 672,3, bilhões (18,1%). Isso foi possível porque cresceu a poupança financeira das companhias, no montante de R$ 540,2 bilhões (alta de 31%).

Conforme o estudo, a exposição das empresas ao risco cambial, considerando captações no exterior e operações em reais, mas indexadas a moedas estrangeiras, chegou a 44,4% em março de 2021, maior nível desde ao menos 2012. Quase a totalidade do avanço, no entanto, foi puxada pelo aumento de dívidas intercompanhia.

FONTE: Valor Econômico – Por Hugo Passarelli — De São Paulo

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